Especialização

Especialização
Aula

quarta-feira, 30 de maio de 2012

ENTREVISTA

"Professores fechados a novos métodos de ensino não têm futuro."

A afirmação é do professor e psicopedagogo Celso Antunes. Ele fala sobre os bons e maus efeitos da Internet na educação atual.


O professor e psicopedagogo Celso Antunes considera a Internet mais que uma nova mídia, a mais importante da chamada Era da Informação — trata-se de uma ferramenta a serviço de uma revolução no ensino. "O professor pode, por exemplo, mostrar aos jovens que a informação tem diferentes abordagens cognitivas, seja observando uma tela, apreciando um texto, uma animação ou um áudio."


Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo, mestre em Ciências Humanas e especialista em Inteligência e Cognição, Celso Antunes é coordenador-geral do ensino de graduação do Centro Universitário Sant'Anna (UNISANTANNA) e do Colégio Sant'Anna Global, em São Paulo. Atua também como consultor da revista Nova Escola, da Editora Abril, e possui mais de cem obras didáticas e paradidáticas traduzidas para a América Latina e para a Europa e dezenas de outras que envolvem cognição, criatividade, ensino e aprendizagem.


Na entrevista a seguir, ele aborda os novos papéis da mídia na educação e suas conseqüências nas relações entre professores e alunos em sala de aula.


Howard Gardner afirma que "alguns talentos só se desenvolvem porque são valorizados pelo ambiente". A valorização atual dada às competências na informática não torna a educação utilitária?


Prof. Celso Antunes - Durante muitos anos a escola agiu como centro transmissor de informação, como instituição que divulgava o saber. E era correto que assim fosse, que ela cumprisse o seu papel. A partir dos anos 70, com o avanço da tecnologia, novos canais de informação foram surgindo, e eles delinearam o novo papel do professor e do aluno. Eu considero a Internet muito importante nestes novos tempos.


Quais habilidades a Internet desenvolve nos jovens usuários?


Prof. Celso Antunes - Habilidades não se desenvolvem sozinhas. A Internet é um grande painel de informações. O professor pode, por exemplo, mostrar aos jovens que a informação tem diferentes abordagens cognitivas, seja observando uma tela, apreciando um texto, uma animação ou um áudio. Um dos grandes trabalhos do professor é ajudar o jovem a organizar as informações que recebe da Internet e ensinar a utilizá-las com múltiplos enfoques: espacial, lógico-matemático, lingüístico. Assim, o aluno aprende a trabalhar habilidades comparatórias importantes como julgar, classificar, analisar, comparar, entre outras. Há que se fazer ainda que a informação obtida, analisada, julgada e comparada possa ser contextualizada na realidade em que aluno está inserido. Ou seja, a Internet pode fazer com que a informação chegue aos alunos A e B. Mas o aluno B, com o auxílio do professor, estará sujeito à informação com mais qualidade.


A tarefa de tomar posse do "saber universal" é totalmente impossível. O senhor acredita que a pressão para aprender pode levar os jovens ao stress intelectual?


Prof. Celso Antunes - Sim. Pode, inclusive, levar ao desinteresse. A escola deve organizar as informações para o aluno, selecioná-las para a aprendizagem e ensiná-lo a perceber o que buscar na Internet e como realizar essa busca.


O senhor concorda com a preocupação de muitos psicólogos de que o uso contínuo e desmesurado da Internet possa atuar negativamente no convívio social e no estabelecimento de relações afetivas, uma vez que "navegar" é uma tarefa solitária?


Prof. Celso Antunes - Sim. Sem critérios e de modo fanático o jovem pode vir a ter essas influências. A escola tem três grandes papéis. Ela é um centro epistemológico, é um núcleo de preparação para o mercado de trabalho e um universo de socialização. Não se ensina que nem tudo que há na geladeira serve para comer? Para o cérebro vale a mesma verdade. Pais e escola devem atuar para que a qualidade da informação seja saudável.


De que modo a Internet pode ajudar o jovem a se educar para a vida?


Prof. Celso Antunes - A Internet é um recurso a mais. Seu uso não dispensa a família, a escola e os demais agentes de educação.


Qual a utilidade da informática para as crianças menores, até 6 anos?


Prof. Celso Antunes - Depende do tipo de trabalho que se propõe a essas crianças. Para os primeiros anos da infância penso que o ideal sejam programas interativos, em que ela possa "ensinar" o computador.


Qual a orientação que o senhor daria aos professores que se utilizam de tecnologias inovadoras, mas ainda têm práticas conservadoras?


Prof. Celso Antunes - Eu diria para observarem as profissões que existiam há uma ou duas décadas. Que procurem pelas parteiras, pelos artesãos, pelos consertadores de canetas. Eles já não existem. Com o magistério não é diferente. Se o educador não olhar os tempos atuais com uma nova perspectiva, se ele não se habilitar ao uso dessas novas ferramentas, não haverá futuro. Ele deve assumir o papel de especialista em aprendizagem e esquecer os métodos retrógrados.


*****


Flávia Muniz/BR Press

Especial para o Educacional

Nenhum comentário:

Postar um comentário